sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Modernismo _ Títulos

 

 

O que sei do modernismo?

O que foi a Semana de Arte Moderna?

Qual seu significado para nosso futuro?

Sei, que Tarsila do Amaral

Dá nome a minha rede de internet

E destinei toda sua arte a nomear uma rede

Como se dá nome a uma rua.

A semana foi considerada imoral

Provocou transformações na arte

Indignando a elite nacional

A nata protegida por uma máscara

Do mais falso conservadorismo...

E se as redes sociais já existissem

Certamente ia bombar em negação ao novo!

O Brasil original se rompeu

A semana é aquariana

E os aquarianos agitam a monotonia

Estão à frente de seu tempo

Com ela não seria diferente

E surgiram tantos contos novos

E na dança das horas, dentro da noite

Veio a arte para viver um grande amor

Constatou-se ser amar, verbo intransitivo

Se ainda conservo algum encantamento

Está guardado nas cartas que não mandei

Se ainda sou capaz de alguma poesia

Ou sentimento do mundo

Devo a suprema conquista de Juca Mulato

Homem sem profissão definida, um faz tudo

O rei da vela na Paulicéia desvairada

Transitava entre Brás, Bexiga e Barra Funda

Sentada em minha cadeira de balanço

Tal qual nas noites do sertão

Penso nas primeiras estórias

Ouvidas sobre ele, o negro da bandeira

E na hora da estrela

Perto do coração selvagem

Pego a maçã no escuro e espero

O despertar de São Paulo

Quando Serafim Ponte Grande trás

Nesse grande sertão: veredas de concreto

Nesse caminho das pedras

Especialmente para os condenados

Ou para uma menina com uma flor

O caminho a sanidade: Macunaíma

Chegamos a 2022

Pau Brasil foi extinto

E a ancestralidade nunca foi respeitada.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O olhar

 

Quando abro os olhos vejo o que já via enquanto fechados e pergunto quando eu via menos, se com eles abertos ou fechados?
Quando abro os olhos vejo escancarada a realidade diante de minha cama, ainda desfeita, já levantei há tempos mas ela está lá, misturada a confusão e profusão de pensamentos que feito anjos, ou demônios, planam os problemas familiares, financeiros, sociais e a fé ou a falta dela.

Quanto fecho os olhos vejo continuam por lá voando todos eles, alguns com asas depenadas como o orçamento secreto desse desgoverno...
Quando fecho os olhos, tento apertar bem as pálpebras para esmagá-los e recomeçar em novos pensamentos e alegrias, talvez
Quando fecho os olhos e aperto bem parece mesmo que o que se esmaga é o meu eu em dúvidas, dívidas comigo e com os outros.

Quando fecho os olhos, escuto minhas vozes internas gritando de fora de mim, e como o som de suas falas ecoam alto na alma já sem rumo, fico mais desnorteada.
Quando fecho os olhos, escuto ou melhor tento fugir desse emaranhado sem solução e ouvir o passarinho, a menina cantando na sacada com voz potente a encantar meu coração, de fato não adianta fugir. 

 

08.11.2021

Declaração de amor narciso


Não lembro exatamente onde nos vimos pela primeira vez, e por mais que me esforce, não consigo lembrar.
Deve ser o peso dos anos a corroer a cordas do tempo e da memória porém, ainda tenho para mim que as melhores lembranças de minha vida foram ao seu lado.
Sua timidez não ajudou em nada e muitas vezes fez você fugir de mim...
Lembra quando ganhou aquele relógio de Natal?
Era de segunda ou até mesmo de terceira mão e foi adquirido com um sacrifício enorme, mas sua alegria ficou guardada para sempre, cravada no tempo e na memória de seu pai.
Pulando vários anos de nossa convivência um dia você passou no vestibular e sei que até hoje tem, cuidadosamente guardada, a charge que teu irmão te deu de presente.
E lá se foi você mundo afora como se nunca mais fosse voltar e talvez aquela que foi não tenha retornado até hoje.
Conheceu muita gente, viajou muitos lugares e línguas estrangeiras, desafiou tudo que outros achariam impossível.
Sim, você foi lá e retornou, voltou completamente outra sem deixar de ser você mesma na autenticidade e sede de verdade.
Nunca perdeu o largo sorriso que sua mãe sempre elogiou e que te fazia franzir a testa e fazer-se de séria.
Você guardava aquele sorriso a sete chaves, era como se sua existência pudesse entregar a pureza de sua alma.
Ainda não lembro onde nos vimos pela primeira vez mas, pouco importa e pouco importa tudo que aconteceu ao longo dos dias, nunca deixei de lado o amor nascido naquele olhar.

 

 

06.12.21

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Terra Preta


 

Erra quem acredita ser o progresso soberano

Ano após anos somos afastados do que gera a vida

Ida sem volta até onde?

Ida sem volta sem quando?

Onde vivo?

Quanto mais alto o prédio mais distante fica

Nossos pés da terra, da origem do alimento pleno

Antes era terra preta

Depois muito depois

Impuseram a economia colonial

Trazendo o pesado fardo do capitalismo

A exploração do trabalho

Industrializaram o alimento

Industrializaram o medicamento

Já não tínhamos mais o pé na terra

E perdemos o alimento

Perdemos o acesso à cultura

Perdemos o prazer do trabalho

Perdemos os laços de família

Viramos uma ilha

A ilha do capital

Nos tornamos prisioneiros sem cadeia alimentar

Sem o alimento de forma plena para o corpo, a mente e a alma

Mas até quando se erra?

Quer existência ou Zumbisistência?

Reflita rápido: em como usar a terra

Pois ou nela se vive ou nela se enterra!

 

 

 

 

15.09.2020

 

 

 

 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Cacos em flor


Hoje é o dia que velei seu corpo sofrido
Já sem as córneas, doadas pelo seu amor a leitura
Amanhã te disse adeus
Já tive dias de alma quebrada
Feito o cristal que vai ao chão
A fazer sangrar as lembranças 
Às vezes, me deparo com seu documento de identidade
Com sua linda foto ainda louro
Guardado em meio a algumas lembranças
No qual está escrito "Não alfabetizado!
E vem a memória sua queixa
"Mãe, tem de fazer outro eu já leio desde os cinco anos!"
Eu, sua mãe, hoje relato aqui
As muitas vezes que minha alma se fez em cacos
Cacos suficientes para construir muitas Casa da Flor 
Às vezes, junto os cacos na intenção de colar
Às vezes, deixo por lá espalhados
Suas pontas cortantes ferem
Mas eu não reluto, deixo sangrar
Até quando por si só se estanque
Lá se vão os anos, muitos deles
Já são o dobro do que você viveu
Os dias levam as lembranças
Os dias porém, não levam a saudade
Mas o que sempre fica é o seu sorriso
Confirmando que disse minha avó
'Filho sai da barriga e vai para cabeça e de lá nunca mais sai.'
 
 
E lá se vão 16 anos de saudade.
 Casa da Flor  https://www.youtube.com/watch?v=R1xK34exi5g
 
Lúcio  https://photos.app.goo.gl/qKubreCNtk6mXRRz5

sábado, 2 de novembro de 2019

Meu beco da memória


Se me recordo bem foi assim
Era quase meio de setembro
Eu estava num parque público
Inebriada em meio a tantos literatos e tanta literatura
Se me recordo bem tu se fazia ausente
Eu estava tão presente, quase um embrulho de Natal
Num momento de distração, quase me traio
Ainda assim, foi bem me permitir
E num devaneio quase literário
Contemplo o gesto alheio com um quase ciúme
Lembro que a fala de minha mãe costumava distrair
Nossa fome infantil de alimento para o corpo
Recordo também da diferença das falas
Dos homens e mulheres de minha casa e das vizinhanças
 A delas de todas as formas sempre mais ricas
A deles sempre mais sem graça, contidas
Como se não soubessem se expressar
Sempre repetiam coisas quase óbvias como
“O Presidente é um imbecil!”
Ainda assim as palavras me presenteavam com liberdade
Um passaporte sem prazo de validade
E novamente, lá estava eu
Na praça de minha longínqua infância  
Num momento que a praça e um livro preenchiam minha liberdade
Um lugar tão especial que nem me lembro da fome me visitar
E nem no inverno rigoroso de minha terra
Onde as árvores pareciam bater desesperadamente
Nas janelas d’alma a fugir do inverno da solidão
E na falta do que guardar eu colecionava palavras
E fazia rimas e quadras e as nomearam de poemas
E zanguei-me por denominarem a minha coleção
Afinal era a minha coleção e só eu podia dar-lhe nome
Só eu sabia na transparência de minha intimidade
Haver de alguma forma certa dose de mentira, aderida a minha escrita
Como a fazenda de meu tio, as festas, os presentes
Nunca superados por ninguém em nenhuma redação pós férias
Assim fiz valer da liberdade que as palavras me deram
Assim comecei a dar passos em direção a glória
E em meio a inúmeros personagens
Uns queridos e outros que o mundo não precisava
Encontrei Deus no sono que dormi
Embolada junto à vovó Rita e sonhei que tu
Mesmo ausente estavas a me perguntar
Será que eu criaria na tua ausência?





Inspiração nascida na 1°. Mesa Literária "Língua Mães" com Conceição Evaristo e Valter Hugo Mãe, Flim 2019.

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